3.11.10

Cavalos

                Estou sem camisa. A água está muito fresca e sol das três horas deixa o dia com um tom de sérpia que me faz lembrar do passado, muita agitação no riacho estou nadando com cavalos selvagens em um lugar que nem em meus sonhos existiria. Meu corpo molhado se refresca na sombra, vejo os animais partirem em sua viagem sem fim, as vezes penso que eu gostaria de estar partindo com eles para onde for, dizem que isso é um ato egoista, fugir é um ato egoista antes de ser um ato covarde mas, penso, de quem ou de que eu estou fugindo?
            A vida é feita de sonhos, se você perde os seus então você perde sua vida, eu penso nestas coisas enquanto os cavalos selvagens atravessam os perigos do rio. Eles são corajosos e não pararam até encontrar seu destino, não creio que eles sonhem com isso mas em seus corpos cansados apenas o objetivo os mantem de cabeça erguida. Eles são selvagens e livres, vivem uma liberdade que eu, com toda a sinceridade, invejo! Eles não precisam provar nada para ninguém, eles apenas correm nos verdes campos buscando os hálitos mais frescos da natureza, nossas invenções do século XXI não são úteis para eles, nossa modernidade e nossa sociedade nada servem para os cavalos selvagens, para eles a lei é a liberdade.
            As águas deste rio não seram as mesmas, o nome disto é “Devir” e rege tudo que é vivo, nunca seremos os mesmos pois nossa mudança, aquela que está encravada em nossa pele, fará tudo o que for necessário para mudarmos, talvez o eu de ontem seja um eu diferente amanha, próvavel que este mesmo eu que observa os cavalos hoje será o eu que dará o nome a sangue para o livro da vida.
            Os cavalos passam.
            Tudo passa.