19.5.09

Soneto do trabalhador

Nas ruas sujas da cidade grande Nas mãos sujas dos meninos de rua Não importa por onde ande Nem quantos buracos você pula Nos ônibus que pegamos Em pé indo e voltando Um pai-nosso rezado quando chegamos Um café rápido e ir saindo A carne que dói em torno de mais um dia Os problemas surgem sem pedir para entrar O sol que se põe, a noite que tardia! O trabalho massante por um pequeno salário O suor do rosto que faz o pão de cada dia O fim do dia, o fim do calvário

A criança da criança

Estou parado na porta de minha loja quando uma garota de no máximo 15 anos me pergunta: - Tio, onde fica a Praça da Bandeira? - não deixo de notar que ela carrega uma barriga de uns 7 ou oito meses de gravidez. Seus olhos grandes me observam ainda na espera de uma resposta a questão que fez. - Vá reto, a primeira praça - ela não agradece, apenas anda pelo caminho que apontei. Observo ela se distânciar até sumir de minha vista. Seus ombros magros, e costas arqueadas pelo peso da barriga, notei que a única coisa mais "cheinha" que seu corpo tinha era a barriga que carregava seu filho. Uma das coisas que mais gosto no local que trabalho é o tempo ocioso que tenho, uso-o para ler e observar e ao observar sempre faço isso parado na porta da loja. Algo sempre me chamara a atenção; vejo muitas vezes garotas grávidas perambulando pelo centro da cidade, uma com as mães, outra com as amigas, outras sozinhas. Noto algumas com o uniforme escolar, outras com um sorriso no rosto mesmo arcando uma preocupação nas costas. Vejo as mães levarem as filhas segurando-as pela mão, andando pela rua, pedindo informação. - Senhor - ela dirige-se a mim - onde fica a Praça da Bandeira? - Por ali - a garota me olha, pareciam ser da classe média, olhinhos castanhos, cabelos levemente loiros, barriga de uns 8 meses. Me assombra o número de garotas grávidas que passeiam pelo centro. Mães sem preparo para ser mães, crianças cuidando de crianças. - Mamãe, estou grávida - diz a garota aos prantos, 16 anos, a barriga ululava em seu corpo. - O que filha!? - a mãe com os olhos brilhando de raiva e angústia - seu pai não pode saber! - Não posso saber o que? - diz o pai pegando todos com uma surpresa telenovelística. - Pai, estou grávida! - diz a filha ignorando o pedido da mãe de esconder do pai. - Filha? - pai da um tapa no rosto de sua filha e começa a chamar a garota de puta, diz que não tem mais filha e ela deve ir embora. A mãe abraça a filha e todos choram. Três meses depois todos esqueceram e esperam ansiosos a chegada da criança. - Ahn, onde fica a Praça da Bandeira? - diz a moça segurando a mão de uma criança que tinha outra criança na barriga. - Por ali, vá reto - aponto o caminho. Tudo isso parece um sensacionalismo banal. Gostaria que fosse apenas uma estória e não uma história. Eu queria tanta coisa... As crianças nascem, as mães cuidam ou até as crianças que a geraram cuidam tambem. Daí estas crianças talvez cresçam e gerem outras crianças e assim caminha a humanidade - Moço, onde fica a Praça da Bandeira? - Ali, só ir reto.