29.9.10

Palhaço

Diante do espelho estranho que a vida nos apresentar, retirar a maquiagem é um ato tão triste para um palhaço mas isso impede que as lágrimas borrem seu rosto feliz. Nas duas máscaras que deram origem ao teatro - o riso e o choro - e no encontro destes fieis amantes que se completam tanto no claro como no escuro da alma. Os dedos tocam o intocável e os reflexos mostram-se como piadas mal-contadas, como versos mal-feitos, como palavras mal-escritas. Na busca de entender o que é a amizade e o amor, talvez um traga ao outro a felicidade ou a tristeza múltua.
Há perigo no seu olhar, está cravado em meu coração o que seu olhar representa para mim, o medo, a angustia me trouxe uma certa serenidade para analizar as coisas dando sempre um passo para trás. Observar e inferir o que se deve observar e inferir, finda em mim alguns sentimentos obliquos, finda em mim uma música que eu escutara há tantos anos que é provável que o criador de tal música já nem exista mais.
Ela tem perigo em seu olhar.
Suas mãos tremem enquanto ela escreve.
Ela tem um ano de idade, ela tem cem anos de idade, ela nasceu e morreu, ela está tirando a maquiagem diante do espelho, lágrima desce.
Tenho medo de nunca envelhecer, ter a sensação que nunca estaremos preparados para sermos consumidos por tudo isso que nos ronda. As vezes ao saír na rua tenho a sensação de ser invisível aos olhares da multidão, me conforta saber que cada ser é invisível ao ser do seu lado, todos somos seres invisíveis uns aos outros até que possamos mostrar o que somos de verdade e aí que decepcionamos pois somos apenas a cópia do que o o outro é.
Chegamos em casa e tiramos nossa maquiagem de palhaço.

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